resumo
Hoje o dia amanheceu agitado, o vento soprava forte e muita terra assentava-se sobre o assoalho da porta. Ao dizer a primeira palavra do dia minha voz quase não saia, eu estava bastante rouca, a garganta muito inflamada e tossia descontroladamente. O xarope com gosto de ferro e enxofre me aliviou um pouco a tosse e deu-me condições de chegar a escola sem assustar as pessoas que se deparavam comigo no caminho.
Durante quatro horas senti a terrível sensação de assumir uma turma com 26 alunos apenas com o domínio das palmas e batuques na mesa para pedir a minha atenção.
Numa discussão entre dois colegas suas palavras soavam alto, eles deliberavam palavras salgadas, amargas, fedidas, quentes e duras a ponto de se pegarem fisicamente. Tentei soltar algumas palavras doces para acalmá-los, no entanto, a tentativa foi em vão, foi necessário chegar perto deles e pedir gesticulando que fossem até a sala da direção com a expectativa de que degustassem algo ouvido pela diretora da escola.
Fiquei muito nervosa, angustiada e senti necessidade de gritar, mas nada adiantaria as inúmeras tentativas. Por alguns instantes senti um gosto de sangue na língua, o amargor do limão na garganta e a sensação de que o xarope ingerido ao sair de casa formava-se um bolo em meu estômago querendo escorrer pela minha garganta e sair pela boca a procura de socorro.
No segundo momento da aula os alunos já demonstravam mais tranquilidade, assim, pude dar continuidade à atividade de Geografia, na confecção dos planetas que fazem parte do sistema solar. As cores do arco íris, da bandeira brasileira e do planeta terra abrilhantaram a aula envolvendo os alunos no brilho das cores que corriam levemente em suas veias, mexendo, experimentando, se lambuzando como se as cores penetrassem em seus ventres e acalmassem o seu interior.
Ao final do trabalho eu não tive palavras para elogiá-los, mas, uma salva de palmas demonstrou meu desejo e satisfação pelo trabalho realizado.