RESUMO A ÉTICA DEMOCRATICA E SEUS INIMIGOS
Jurandir Freire
O ponto central dessa leitura, portanto, é a noção de abuso de poder, de invasão desestruturante de uma ordem desejável, posta no horizonte ético da cultura. Os estudos que se detêm neste aspecto da violência, normalmente analisam as relações de poder entre grupos ou classes e focalizam, especialmente, as ações individuais ou coletivas que buscam anular a força do adversário, na defesa de seus respectivos pleitos sociais. Abordar a violência a partir da visão que o indivíduo de elite tem de seu destino socioindividual. A escolha deste pondo de vista deve-se a duas razoes principais. A primeira concerne ao poder que tem tal indivíduo de formar mentalidades. As elites brasileiras monopolizam a maior parte das riquezas materiais do país e os instrumentos que consagram normas de comportamentos e aspirações como recomendáveis e desejáveis. Seu valor estratégico, no que concerna a mudanças sociais é, por este motivo, de grande importância. A segunda razão diz respeito à possibilidade de entender mais facilmente "como e em que pensam as elites", dado o hábito cultural que têm de tematizarem a si mesmas. Enquanto, nas camadas populares, tomar a própria subjetividade como objeto de preocupação e discurso público é uma exceção, nas elites esse hábito é a regra. Assim, por meio da discussão constante de seus conflitos, crenças, desejos, ideias e aspirações, elas revelam o modo como aprendem a subjetivar-se e a maneira como interpretam seus papéis na condução, conservação ou transformação da realidade brasileira. O alheamento em relação ao outro
A capacidade que temos de tornar o outro um "estranho", alguém que não é de "chez nous", foi discutida exaustivamente por numerosos estudiosos. A contingência das imagens que temos "do que é ser humano" pode levar-nos a desconhecer o outro como um semelhante. O alheamento consiste numa atitude de distanciamento, em que a