RESUMO: A cidade do pensamento Único - Otília Arantes
Otília Arantes, Carlos Vainer, Ermínia Maricato
1. Uma nova geração urbanística?
Uma nova geração? Tenho dúvidas. O que está sendo chamado de “terceira geração” urbanística, a meu ver, não representa nenhuma ruptura maior de continuidade com a anterior. O que levou, não por acaso, a ressuscitar o vocabulário descartado do “planejamento”, posto em descrédito pela voga contextualista anterior. Porque o novo planejamento urbano, dito estratégico, que se pretende novo ao menos em relação às intervenções pontuais do período anterior, e contrastante, por desenterrar e pelo menos reabilitar uma expressão derivada da falida “ideologia do plano”, não só relançou como manteve o foco na alegada dimensão cultural do impulso dito (também) historicista do paradigma prevalecente durante a fase de reação ao naufrágio histórico do Movimento Moderno?
Noutras palavras, e intervindo a seqüência estratégia/cultura: políticas (urbanas) de matriz identitária podem ser estrategicamente planejadas? Algo como calcular o espontâneo. Quando nos dias de hoje, se fala de cidade (pensando estar “fazendo cidade”..), fala-se cada vez menos em racionalidade, funcionalidade, zoneamento, plano diretor, etc, e cada vez mais em requalificação. Retornando ao planejamento, pouco importa se chamado ou não estratégico, pois este não veio para corrigir o antiurbanismo da geração anterior. Pelo contrário, este veio agravar ainda mais o inchaço cultural que impera desde que governantes e investidores passaram a desbravar uma nova fronteira de acumulação de poder e dinheiro – o negócio das imagens. O “tudo é cultura” da era que parece ter se inaugurado nos idos de 1960, teria pois se transformado de vez naquilo que venho chamando de culturalismo de mercado. De tal forma que a cultura - que nos primórdios da Era Industrial se cristalizara como esfera autônoma dos valores antimercado- , ao torna-se imagem, quer dizer, representação e sua