Resumo Os habitantes da casa
Os habitantes da casa
Ferreira Gullar
Uma casa tem diferentes dimensões. Estou falando do tamanho dos diversos tipos de seres vivos que a habitam. Eu, por exemplo, ao que tudo indica, sou o maior habitante da casa. Maria, a empregada, tem um pouco menos de altura, mas pesa muito mais. Só que não mora aqui. Moro sozinho, logo sou o maior habitante da casa. Fora os filhos -que eram maiores, e a filha e a Thereza, que eram menores e que também se foram- havia o gato, bem menor que todos nós e mais silencioso também. Houve presenças eventuais, de visitantes, diria, como a de um pequenino rato que foi abocanhado pelo Gatinho, na área de serviço. Outros desses visitantes foi um passarinho, pelo qual nada pude fazer, além de recolher os restos de asas e plumas que dele restaram junto ao janelão da sala. Bem menores que os passarinhos são os insetos, que eventualmente invadem a casa e depois ficam se esbatendo contra o vidro das janelas, sem conseguir sair. Já as baratas miúdas, essas, para azar meu, nada tinham de serem visitantes esporádicas: ocupavam os armários da cozinha e do banheiro. Mas não é propriamente disso que desejo falar, e, sim, de outros bichinhos, pelos quais tenho simpatia e ternura, como as lagartixas, por exemplo. Não sei onde mora, mas, de repente, me deparo com uma delas colada no alto de uma parede. Atualmente, não me preocupo com elas, uma vez que meu gato, chamado Gatinho, morreu. Porque não distinguia entre ratos e lagartixas, atacava-os com a mesma maldade. Porém o ser mais fascinante que habita minha casa é uma aranha (ou uma família delas) que, vez por outra, surge no meu banheiro. Lá, também, frequentemente, aparecem formigas minúsculas, que estão dentre os seres visíveis, os menores de meu convívio. Mas, como disse, minha hóspede mais fascinante é uma minúscula aranha.