Resumo os deuses devem estar loucos
Neste espaço de diálogo, em que se fala da vida, ou de pequenas fracções dela, onde, com a espontaneidade e a natural fluência das conversas mais aprazíveis, podemos trocar pontos de vista, iremos procurar partilhar algumas reflexões à margem do filme «Os deuses devem estar loucos».
Este filme cómico não é, nem recente, nem um clássico detentor de recordes de bilheteira, mas, nem por isso, é menos aliciante e menos provido de matéria de reflexão - tal como em muitas ocasiões da vida, nem sempre as situações mais espectaculares, mais sofisticadas, são aquelas que mais satisfação nos proporcionam, ou aquelas que, realmente, nos fazem crescer mais: um breve olhar; uma palavra oportuna, um aceno espontâneo, um sorriso franco, são, por vezes, mais eloquentes do que um grande discurso.
Trata-se de um filme interessante por diversas razões, de que mencionaremos apenas algumas: por proporcionar um espaço de entretenimento e de prazer, conduzindo-nos às deslumbrantes paisagens africanas, para um contexto espacio-temporal totalmente diferente do nosso; pelo próprio enredo do filme, pelas situações caricatas com que nos confronta, a cada passo, e que são motivo de saudáveis gargalhadas; e, principal motivo desta nossa eleição, pelas ocasiões de reflexão que proporciona a respeito de nós, dos outros, e de como reagimos em relação aos imprevistos e às situações novas, à mudança, afinal.
O filme tem início no deserto do Kalahari, no Botswana, junto à Africa do Sul, numa pacata e semi-desértica paisagem, coberta por uma vegetação arbórea esparsa, mostrando uma cena da vida quotidiana de um grupo de bosquímanos(1) que decorre calmamente.
Sobrevoando esse local, uma avioneta, de onde um dos seus tripulantes lança, inadvertidamente, uma garrafa de Coca Cola - daquelas de vidro, bojudas no meio e estreitas no gargalo e com as letras da marca bem impressas - símbolo universal da moderna civilização de consumo deste final de século.