Resumo Noção do Indivíduo Alain Renault
-> Noção do indivíduo
A noção de indivíduo emerge do mais longínquo passado da reflexão filosófica. Citemos alguns exemplos pra comprovar esse fato: já no mundo antigo, Cícero denominava usualmente ''indivíduo'' cada um dos indivisíveis corpúsculos, os ''átomos'', que Demócrito e Epicuro haviam tomado como princípio dos corpos visíveis. No antigo atomismo ou no nominalismo medieval, nada há, comparável, em matéria de valorização do indivíduo, àquilo que apenas a moderna concepção do mundo testemunhou. Tanto que, em muitos aspectos, é mediante a afirmação do indivíduo enquanto o princípio e enquanto valor que o dispositivo cultura, intelectual e filosófico da modernidade pode simultaneamente caracterizar-se em sua originalidade mais evidente e einterrogar-se a respeito de alguns de seus enigmas mais temíveis.
UMA NOVA LIBERDADE
Há muito tempo estabeleceu-se a convicção de que uma inédita representação da liberdade humana se deu com a modernidade. Hegel já observava que, se os Antigos se sabiam livres enquanto cidadãos, nem Platão nem Aristóteles souberem que o homem enquanto tal é livre: ''A exigência infinita da subjetividade, da autonomia do espírito em si era desconhecida dos atenienses''.
Em vez de questionar de forma demasiadamente direta, a pertinência que tal concepção de humanidade é suscetível de conservar em relação às exigências do pensamento contemporâneo, é mister enfrentar duas questões levantadas pela insistente correlação entre a modernidade e essa pretensão a uma liberdade concebida em termos de autonomia:
* Em primeiro lugar, em que medida é de fato uma ''nova liberdade'' a que irrompe, desconhecida de Platão e Aristóteles, determinando assim uma nova representação do ser humano? E com que linhas de ruptura com o universo pré-moderno essa irrupção se solidariza, sobretudo no que toca ao valor atribuído ao indivíduo enquanto tal?
* Em segundo lugar, mesmo admitindo que a autonomia seja ''resolutamente