resumo lumen fidei
A Carta aos Hebreus põe em relevo um aspecto essencial da fé, que não se apresenta apenas como um caminho, mas também como edificação, preparação de um lugar onde os homens possam habitar uns com os outros. O primeiro construtor é Noé, que, na arca, consegue salvar a sua família (cf. Heb 11, 7). Depois aparece Abraão, de quem se diz que, pela fé, habitara em tendas, esperando a cidade de alicerces firmes (cf. Heb 11, 9-10).
No Evangelho de João Jesus se apresenta: « Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas » (Jo 12, 46). Nos tempos modernos, pensou-se que tal luz não servia para os novos tempos, para o homem orgulhoso da sua razão. Neste caso, a fé seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens livres rumo ao amanhã.
Por este caminho, a fé acabou por ser associada com a escuridão, como um salto no vazio, que fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento talvez capaz de aquecer o coração e consolar pessoalmente, mas impossível de ser proposta aos outros como luz objetiva e comum para iluminar o caminho. E, assim, o homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade grande, para se contentar com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas são incapazes de desvendar a estrada.
Por isso, urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude que nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz orientando os passos no tempo e nos leva a ultrapassar o nosso « eu » isolado abrindo-o à amplitude da comunhão.
Antes da sua paixão, o Senhor assegurava a Pedro: « Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça