resumo de literatura
Viagens na minha terra: um exemplo de modernidade Uma análise de Viagens na minha terra, de Almeida Garrett,1 poderia iniciar-se pela focalização das personagens da história de amor aí contida, preocupando-se com a observação de suas contradições internas, especialmente de Carlos e seu pai. Essa perspectiva valorizaria o enunciado e seus elementos míticos e ideológicos, e poderia estudar a presença do mito do herói na personagem Carlos, o rebelde que luta pela causa liberal, não consegue conviver com o universo feminino e acaba por referendar a ideologia que contesta ao tornar-se barão, o sucedâneo dos frades. Vários elementos indicariam a presença desse mito nas Viagens: o descontentamento da personagem com o mundo que o cerca, sua luta contra o monstro da guerra, a seqüência mítica nascimento / morte / ressurreição, a presença do ser amado que se torna interdito e morre fisicamente (Joaninha) ou simbolicamente (Georgina). A rebeldia e a submissão do herói poderiam também ser relacionadas com os conflitos de seu criador que, educado no absolutismo e no classicismo, abraçou o liberalismo e o romantismo, deixando em sua obra, entretanto, a marca das convicções que o formaram inicialmente. A contradição interna das personagens de Viagens na minha terra levaria à percepção de que o texto de Garrett teria as marcas de uma posição romântica que se recusaria a seguir modelos clássicos preestabelecidos. Indicaria também a dualidade sentimental e vivencial de um autor que contrapunha ao idealizado amor à pátria o desalento resultante da observação da realidade. As contradições do romance refletiriam assim a evolução de uma visão de mundo alterada pelas experiências vividas, especialmente no exílio, e que resultaram em disponibilidade para aderir a práticas literárias então inusitadas em Portugal. Educado no absolutismo, mas liberal praticante, de formação clássica, porém adepto da liberdade de criação, tal como