Responsabilidade como critério para saúde mental
Diante da necessidade de se definir o que é saúde sob o ponto de vista psicanalítico, na Conferência de encerramento da II Jornada do Campo Freudiano em Andaluzia, Espanha, 1988, Jacques – Alain Miller (psicanalista francês) afirma que “a saúde mental não tem outra definição que a da ordem pública.”. E acrescenta, portanto, que a perda da saúde mental é manifestada na perturbação dessa ordem.
Miller confia no senso comum de Paris que diz que não se pode confiar em alguém incapaz de atravessar a rua com uma criança. Acredita, com isso, em modelos de saúde mental mais relaxados no campo onde há menos automóveis e ruas.
Segundo testemunhos dos que trabalham nas Instituições (de tratamento), Miller diz que a saúde mental é uma questão de entrar, sair e voltar. Voltar depois de haver saído é essencial à ordem pública. E são esses trabalhadores da saúde mental que definem quem é capaz de circular entre os demais pelas ruas, quem não pode sair, etc.
A saúde mental tem assim o objetivo de reintegrar o indivíduo à sociedade.
Porém, Miller admite que existam perturbações que concernem à polícia ou justiça. O critério para situar o problema desse lado ou do da saúde é a responsabilidade (conceito aceito antes por Lacan).
Se responsável, pode-se castigá-lo por seus atos. Se irresponsável, deve-se curá-lo. “ A melhor definição de um homem em boa saúde mental é que se pode castigá-lo por seus atos.”.
Mas o que seria irresponsabilidade? É a incapacidade de dar razão aos seus atos, ás suas palavras, incapacidade de julgar. Os demais decidem por ele, deixando de ser um sujeito de pleno direito.
Miller se corrige ainda, dizendo que a saúde mental é uma subcategoria da ordem pública, pois pode haver conexão entre uma neurose obsessiva e ordem pública (capacidade de julgar).
A partir disso, pode-se entender o conceito freudiano do “sentimento de culpa”.
O