Residencia roberto millan
Abilio Guerra e Alessandro José Castroviejo Ribeiro
A arquitetura brasileira do século XX é hegemonicamente moderna. Mas a acepção do termo “moderno” deve ser entendida dentro de uma perspectiva cultural específica, que remonta aos anos 20, momento de instauração das primeiras correntes modernistas em nosso país. No bojo de um movimento que envolve em seus primeiros momentos jovens intelectuais, em sua maioria literatos e artistas plásticos, surge uma discussão ambígua, que busca conciliar agendas muito diversas. Por um lado, a sensação aguda de um atraso em relação aos movimentos estéticos europeus, os impulsiona em uma busca frenética de atualização cultural, muitas vezes incompatível com a realidade do país. Por outro, a aposta em um caminho particular dentro dos pressupostos modernos acaba conformando uma perspectiva regionalista, de resto contraditória com a visão universalista e universalizante do ideário moderno europeu. A fórmula encontrada, que propõe a conciliação entre omoderno estrangeiro e a tradição colonial brasileira, vai ter nos manifestos e romances de Mário de Andrade e Oswald de Andrade e na pintura de Tarsila do Amaral suas mais felizes realizações.
Tal fórmula, não muito diferente de alternativas propostas por intelectuais de outros países periféricos no mesmo período, vai ser adotada na década seguinte pelos arquitetos, também eles dispostos a buscar novos rumos para uma área estagnada, agrilhoada por convicções acadêmicas neo-clássicas. À frente do movimento, a figura lendária do arquiteto Lucio Costa, que ainda jovem assume papel de ideólogo da Arquitetura Moderna Brasileira, traçando o destino da nova arquitetura a ser realizada, a partir de uma série de ajustes das questões já estabelecidas pelos modernistas de primeira hora. O deslocamento da discussão moderna de uma área da cultura para outra – no caso, da literatura e artes plásticas para a arquitetura – tem como pano de fundo mudanças mais estruturais