Resenhas
Huizinga volta seu olhar para a cultura da região francesa de Borgonha do final do medievo e questiona por que a imagem desta época foi construída de forma tão distinta pela literatura e pelas artes plásticas deste período.
O autor salienta que para que se possa compreender a função das artes plásticas nesta sociedade é necessário que se procure compreender não só a produção que sobreviveu, mas também aquela que foi perdida.
Ao observar essa produção Johan defende que a arte era parte integrante da vida daquele período e tinha como função “intensificar o esplendor da própria vida” 1. Ela era aplicada à vida. Ou seja, era produzida com uma determinada finalidade utilitária, quase sempre relacionada à vida cotidiana.
É justamente por sua finalidade utilitária, que fará com que o principal valor, a importância de uma obra de arte recaia sobre o tema e o propósito desta obra, e não sobre outros conceitos como a beleza, o apuro da técnica, o valor de mercado. Huizinga salienta que a beleza da obra estava atrelada à temática sagrada ou ao propósito venerável da mesma.
Para o autor a arte deixará de ser parte integral da vida apenas quando tiver início o colecionismo de arte, com a atuação dos reis e da nobreza europeia. A partir deste momento passará a se desenvolver o amor pela arte em si; desvinculando sua produção de uma natureza prática de comunicar, de relatar um fato, uma história, de lembrar, de orientar uma conduta, etc.
Podemos inferir que esse momento apresentado por Huizinga como divisor entre uma produção de arte aplicada, ou seja, com uma finalidade prática e direta para a vida cotidiana, e de uma arte cultivada para apreciação visual, para o deleite, para o colecionismo apresenta-se como uma reconfiguração não só da função da arte em relação ao homem e à sociedade. Neste momento também irão se reconfigurar as formas como a arte era produzida e negociada. Ou