Resenha
De um lado, os que desejam transformar o Brasil em Estados Unidos. Do outro, os que querem afirmar uma identidade autônoma para esta terra. Os que concebem a luta de raças como inerente à condição humana e os que a entendem como desgraça, anomalia histórica construída pelo poder espúrio, causa maior de horror e sofrimento. O livro de Demétrio Magnoli “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial” inscreve-se nesta última posição.
O novo livro de Demétrio Magnoli é contribuição maiúscula para que o povo brasileiro vença um dos seus maiores desafios, no momento em que universidades instituem cotas para estudantes por critérios raciais e o Poder Executivo cria uma secretaria destinada à promoção do racismo. Instante em que o Congresso Nacional propõe o chamado “Estatuto da Igualdade Racial”, que incorpora à lei o posicionamento de ativistas étnicos abrigados em ONGs mantidas por generosas contribuições de fundos norte-americanos.
Escrito em linguagem accessível, “Uma Gota de Sangue” reúne uma quantidade impressionante de informação. Descreve o que os cientistas do passado e do presente disseram a respeito da classificação dos seres humanos pelo critério de raça. Investiga o papel do conceito de raça na história do pensamento científico e suas repercussões na vida política, sua relação com a expansão colonial européia, com a organização social norte-americana e com o nazismo alemão. É enfatizada a importância dos censos de população na divisão dos povos.
A etnicidade configurada pelo conceito de raça vai sendo trabalhada ao longo de livro em viagem pela história social e pela geografia. Da África do Sul e dos Estados Unidos o fio do argumento atinge o conceito de multiculturalismo, na visão de Bourdieu e Wacquant, outra expressão da “nova vulgata” da matriz político/cultural norte-americana, como é o neoliberalismo em economia. É evidenciado o papel central da Fundação Ford no apoio financeiro ao pensamento acadêmico racial