resenha
Prof. Dr. Eduardo Gonçalves
Aluna: Sarah Abrão
“Um Defeito de Cor” conta a história de sua narradora Kehinde, mulher negra cuja trajetória de submissão e rompimento de paradigmas no Brasil colonial, onde o negro é objeto-mercadoria, surpreende o leitor ao mostrar de modo interessante a visão sobre a época retratada na voz da experiência negra e feminina de oito décadas de “coisificação”, tanto no Brasil quanto na África do século XIX.
Capturada ainda criança e trazida da África para o Brasil na condição de escrava, Kehinde encontra suporte para romper com os paradigmas do Brasil colonial no conhecimento da escrita (assim como de vários idiomas) e nas suas crenças religiosas comuns às dos demais negros trazidos para o Brasil, os quais se empenharam fortemente em manter suas tradições.
É de se comprovar, numa sociedade patriarcal e escravocrata, que se a mulher branca não tinha voz e era propriedade do marido, a mulher negra era ainda mais inferiorizada, não lhe restando qualquer expectativa de vida melhor. Nesse contexto, é impressionante a esperança, determinação e persistência da narradora em, mesmo diante de tantas dificuldades, em ter um destino diferente dos demais, conquistando melhores condições de vida.
Kehinde fortalece sua luta com sua fé religiosa e seu conhecimentos da escrita, gozando também de certa sorte ao longo de sua história. Ela enfrenta toda a opressão e maus tratos da escravidão com a crença em seus orixás. Kehinde acaba representando um símbolo feminino de luta e persistência, superando as expectativas não só da sociedade branca, mas do próprio leitor.