resenha
Para Nietzsche a genealogia é um aglomerado de matérias que exige paciência, minúcia do saber, a genealogia não se opõe a História ela se opõe a pesquisa da “origem”; A genealogia do poder. Contudo, estas não são estudos estanques, mas instâncias que se entremeiam, imbricam, resultando na expressão foucaultiana que resume suas pesquisas: o poder-saber.
A noção de poder para Foucault difere do que entendemos correntemente por poder. Não se trata de algo simplesmente repressivo; ele está pulverizado no tecido social, em todas as instâncias, bem como nas produções discursivas. Segundo suas próprias palavras: “O poder não opera em um único lugar, mas em lugares múltiplos: a família, a vida sexual, a maneira como se tratam os loucos, a exclusão dos homossexuais, as relações entre os homens e as mulheres...” ([1973], 2006, p. 262). Nesse sentido, o poder é produtor: de individualidade, de mais poder, de segregação, mas também de junção. Ele não vem de cima, mas se espraia, configurando-se em um micropoder, que é mais eficaz que o poder reconhecido como autoritário – mais eficaz porque não é localizável.
Foucault parte das instâncias discursivas tratadas em sua arqueologia para descobrir nelas esse agenciamento de poder insidioso e permanente. Um poder que coage os saberes, mantendo-os em uma teia discursiva que “seleciona”, por assim dizer, quais saberes devem ou não ganhar legitimidade. Segundo ele, quando se elege um saber, ou um discurso – o científico, por exemplo –, como o saber legítimo, desqualifica-se, em contrapartida, outro que não pode ganhar esse estatuto. Nesse sentido, a produção de saberes está sempre em uma relação dialética com a desqualificação também de saberes. De acordo com o autor: “Enquanto a arqueologia é o método próprio à análise da discursividade local, a genealogia é a tática que, a partir da discursividade local assim descrita, ativa os saberes libertos da sujeição que emergem desta discursividade” (1979, p. 172).