Resenha
Texto: Rituais de cidadania na Grécia Antiga
Autora: Maria do Céu Fialho
É em visível correlação de alteridade que a experiência de identidade helênica, como de resto todas as experiências de identidade, nasce e se consolida.
O outro, o não negro, que começa, desde muito cedo, a ser designado, na sua globalidade, de acordo com um critério de caráter linguístico aplicado negativamente, é o bárbaro.
Tal designação denuncia, na percepção do outro, a incómoda incapacidade de compreensão dos seus códigos de comportamento e comunicação, a partir da linguagem, em sentido lato, da identidade.
O outro pode, também, ser o Grego, como rival, inimigo, invasor, infrator de códigos de comportamento.
Uma vez ultrapassada esta fase critica da ameaça persa, a estratégia de consolidação do poderio helénico nos mares, que deu origem à Anfictionia de Delos, conterá em si, pela hegemonia crescente de Atenas e pelo consequente agrava do conflito de interesses com Esparta, o germe da própria destruição do universo do sistema da polis, na sequencia do longo e desgastante conflito da Guerra do Peloponeso e da profunda crise econômica, politica e social que a acompanha, sublinhada, nessa mesma Atenas, por uma descrença progressiva e irrecuperável nos próprios valores da cidade – estado e da sua democracia.
O fenómeno da colonização rumo a espaços cada vez mais próximos do que o Grego chamava Ásia, ou confluindo, para Ocidente, com outros povos que cruzavam, desde há muito, o Mediterrâneo, como os Fenícios, vai pô-lo em confronto com esta pergunta se sempre: onde termina o Eu e começa o Outro.
O próprio grego tem meios expressivos para precisar as diferenciações de alteridade. A tradução, para línguas modernas, de ambos os termos, bárbaros e xenos, igualmente como “estrangeiros”, esbate e anula a diferença substancial entre os dois termos. É que a designação bárbaros, como já foi referido, corresponde, desde cedo, a um modo de designar o Outro, não grego, inicialmente a