Resenha
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Barthes, Roland. O Prazer do Texto. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva.
Nesta obra pós-estruturalista de Barthes, a escrita lírica e literária é uma ruptura com a significação estrutural a favor, também, de uma possível leitura erótica do texto. O pacto no espaço do "entre" autor/leitor possibilita que o último corte a corda e contente-se no prazer que a escrita permite.
O "entre" é quase uma categoria em O Prazer do Texto. Obra que visita o tempo todo essa noção: desde sua assunção, de saída, como um sujeito contraditório, ao passar pela "margem de indecisão" resguarda entre a conceituação dos textos de prazer e de gozo, até sua afirmação da dupla e contraditória perversidade, de afirmar igualmente a experiência do prazer - ligada à cultura, à afirmação da identidade - e aquela do gozo, ligada à perda, à fenda, ao distanciamento da cultura. A "fenda" que é uma noção importante dessa obra, uma outra figuração do "entre": a fenda é o lugar mesmo da erotização, do gozo: não se goza com a destruição, puramente, da cultura ou do sentido, mas com as transgressões sutis que se consegue criar entre essas bordas. Daí a negação de Barthes à mera destruição do sentido, à vanguarda como violência: negligenciando o lugar do entre, a violência perde o espaço da erotização; a violência está a um passo do estereótipo, da repetição, da doxa - de tudo aquilo que consiste.
Para este Barthes, a leitura é um jogo erótico. Contudo, escrever no prazer não assegura que o prazer chegue ao leitor, é preciso criar um espaço de fruição. E a escritura é a ciência das fruições da linguagem, é a porta de acesso ao imaginário e ao ideológico. Entendemos que a escrita barthesiana se move no intervalo sutil entre o texto de vanguarda (que adia a fluência da leitura e impõe sobre ela seu próprio e necessário ritmo de leitura) e o texto "clássico"