Resenha
A mão invisível, expressão difundida a partir da obra de Adam Smith, certamente ocupa posição de destaque na história do Resenha pensamento econômico. Trata-se de uma metáfora consagrada na economia, ao mesmo tempo que se afigura fonte de interminável polêmica e controvérsia. Deste modo, parece valer a pena realizar um exame mais detido desta noção, segundo proposta que esclareceremos prontamente.
O estudo de um conceito e de um autor de mais de duzentos anos não é, por certo, empreendimento livre de dificuldades e armadilhas. A distância de seu contexto histórico e intelectual não é pequena, seus textos não são mais (via de regra) sistematicamente lidos na formação-padrão do economista atual; e, mais do que isso, há uma imagem recebida do mesmo cristalizada nos cânones da ciência que, mesmo não sendo rejeitável em bloco, certamente constitui obstáculo adicional na aproximação e entendimento das idéias originais do autor.
O conceito de cânon (Bianchi e Nunes, 2002), que pretendemos enfatizar nesta introdução, traz importantes idéias sobre o que buscamos aqui desenvolver. Basicamente, "cânon" pode ser entendido como padrão ou regra, ou ainda como lista ou catálogo. O conceito deixa transparecer importante carga religiosa ou mitológica, instância em que os autores canonizados desempenham o papel de heróis do passado, exemplos a serem imitados. No entanto, "[u]ma vez instituído, o cânon perde sua temporalidade. Em outras palavras, ele liga o presente ao passado de forma unilinear, essencialmente distorcida." (ibid p. 162). O autor canonizado fala diretamente ao presente, o que em si não é problema, posto que clássicos constituem fonte permanente de sabedoria.1 A questão é que o autor é descolado de seu tempo, sua voz é descontextualizada, quando não seu pensamento é enquadrado em esquemas teóricos contemporâneos estranhos ao autor original, porém familiares – e, portanto, facilitadores – ao economista