resenha
Dançando no escuro é um filme ícone, apresenta uma história verossímil e de modo autêntico, assim como os demais do diretor Lars Von Trier; em vista disso, qualquer análise será sempre incapaz de abranger sua complexidade.
A que segue baseia-se na possibilidade de existência de um jogo de paradigmas em diversas nuances, de percepção de perspectivas diferenciadas e de sentidos, ancorando-se, para isso, em alguns elementos dos pressupostos de Kuhn (2000), Merleau-Ponty (2006) e Orlandi (2005), respectivamente. Além disso, vislumbra comparações com recortes de obras literárias. Segundo o entendimento, dividiu-se a análise em partes: os acontecimentos do filme, o efeito do trabalho do diretor sobre o espectador, os sentidos em/de Selma (Björk) e a comunicação de Selma.
2. O enredo
O filme é um musical às avessas, retrata o modo de vida de uma estrangeira, da Tchecoslováquia, em uma cidade de interior dos Estados Unidos da América, por volta dos anos de 1960. A personagem retratada é Selma Jezkova, operária de turno e contraturno em uma fábrica metalúrgica, e trabalhadora informal (coloca grampos em cartões), mãe solteira de um menino adolescente e que fica cega ao longo da história por uma doença genética. A trajetória da personagem é bastante sofrida uma vez que, em busca da disponibilização de dinheiro para o filho realizar a cirurgia ocular (por ser portador da mesma doença da mãe), Selma trabalhou obsessivamente mesmo ficando cega, teve suas economias roubadas pelo vizinho e amigo Bill, a quem teve de matar para recuperar suas esperanças e por quem teve de ser presa e julgada à morte. Em meio a toda sua dura realidade, Selma reservava dedicação apaixonada por musicais, os quais se constituíram o próprio ritmo de trabalho e de vida da personagem. Ao final, entre a possibilidade de ficar viva, mediante novo julgamento com novo advogado, e de ter seu filho curado, a personagem escolhe a morte.
3. O espectador, Lars Von