Resenha

5129 palavras 21 páginas
A civilização das formas: o corpo como valor* por Mirian Goldenberg e Marcelo Silva Ramos - publicado em 17/01/2007
Antes de passar pelo menos duas horas com o maquiador e o cabeleireiro, nem eu pareço com a Cindy Crawford.
CINDY CRAWFORD
No início do romance Um, nenhum e cem mil, de Luigi Pirandello, o personagem Vitangelo Moscarda, um jovem de 28 anos, rico e ocioso, é surpreendido por sua mulher Dida olhando-se demoradamente no espelho. “O que você está fazendo?”, pergunta-lhe Dida. “Nada, estou olhando aqui, dentro do meu nariz, esta narina. Quando aperto sinto uma dorzinha.” A mulher, sorrindo, diz com certo sarcasmo: “Pensei que estivesse olhando para que lado ele cai.” “Cai? O meu nariz?”, retruca. “Claro, querido. Repare bem: ele cai para a direita”, responde Dida, placidamente. A partir daí, o protagonista que até então considerava seu nariz, se não propriamente belo, pelo menos “bastante decente” desconhecedor deste e de outros “leves defeitos” (sobrancelhas que parecem dois acentos circunflexos, orelhas mal grudadas, uma mais saliente que a outra...) enumerados, logo em seguida, por sua mulher, fixou-se na idéia de que não era para os outros aquilo que imaginava ser. Pensava, naquele momento, apenas no seu corpo, escolhido pelo autor como ponto de partida para as posteriores reflexões do personagem sobre o desajuste entre sua vida subjetiva e a imagem que os outros tinham dele. Após tomar consciência de que não era tal como se via, mas como os outros o viam, bem como não era o que pensava ser, mas o que dele pensavam os outros, Moscarda procura decompor as imagens que dele faziam, numa busca “existencialista” de si mesmo. No percurso, despoja-se de todos os seus bens e escolhe viver em um albergue de mendigos e loucos. A moral da história o próprio autor revela: “O aspecto trágico da vida está precisamente nessa lei a que o homem é forçado a obedecer, a lei que o obriga a ser um. Cada qual pode ser um, nenhum, cem mil, mas a escolha é um imperativo

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