Resenha o vendedor de passados
353 palavras
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A história é curiosa. Um sujeito vive na desgraçada Angola do período pós-colonial. Seu ofício é inventar passados edificantes para a elite arrivista de seu país. Aparentemente ele é bem sucedido e mantém uma clientela regular. Um dia um fotógrafo pernóstico o visita e solicita seus serviços. O trabalho é feito mas o sujeito se empolga tanto com o passado construído que resolve percorrê-lo fisicamente (visitando pessoas, cemitérios, cidades que nunca frequentou), como ele fosse mesmo o sujeito inventado. Ele muda seu sotaque, muda sua forma de vestir-se. Ele vê um mendigo algo louco e este torna-se sujeito de seu trabalho fotográfico. Uma outra fotógrafa, bastante jovem, também aparece na trama. O construtor de passados se apaixona por ela. As histórias destes quatro personagens se enredam e se tornam mais complexas. Surge o terrível passado real angolano, as histórias da guerra, da violência e do crime que grassou por Angola após sua independência de Portugal. Lembrando o que nos ensina Beckett (citando a obra de Proust), também para Agualusa os homens que não se esquecem de nada nunca se lembram de nada, portanto também nos lugares onde não se esquece nada, nada pode ser verdadeiramente relembrado. O narrador do livro é um "osga", que para angolanos e portugueses é algo que se parece com o que eu entendo por salamandra. O "osga" sabe-se a reencarnação de um homo sapiens sapiens e tem saudades de seu passado. Ele e o inventor de passados não conversam exatamente, mas sabem da existência um do outro (o "osga" tem até nome próprio) e interagem através dos outros personagens (pois é a salamandra que sonha com a vida inventada e a vida real dos outros personagens). Apesar da lembrança dos acontecimentos terríveis que assolaram Angola há uma esperança que percorre o livro e que deixa o leitor em paz. Como acontece nas histórias de amor (e em "o vendedor de passados" se conta uma história de amor) no final o mocinho sai a procurar pela mocinha e tenta construir um sonho