Resenha/O Outro Pé da Sereia - Mia Couto
A África foi, por muito tempo, representada no imaginário do homem ocidental como um continente misterioso, mítico, vasto e bárbaro. A hegemonia do sujeito branco e ocidental formulou imagens de um “outro” africano que se opõe à imagem que tinha de si mesmo.
O autor desse romance compõe a história pelas memórias, não só do passado, mas as que colocam as pessoas de frente para si mesmas, proporcionando momentos de descobertas que poderão mudar suas vidas para sempre. A personagem principal na qual vai fazer a ponte dos relatos da história, no retrocesso do presente para o passado, é a personagem Mwadia Malunga, pois através das histórias de seus antepassados, ela vai descobrir como se poderia viver a partir daquele momento em diante.
O romance O Outro Pé da Sereia (2006) de Mia Couto é uma narrativa pela qual a estrutura da obra é separada em dois tempos, e essa separação é marcada no início de cada capítulo como uma forma de avisar ao seu leitor onde e quando se passa a ação narrada.
Assim, temos no romance duas temporalidades, a narrativa que se desenvolve no século XVI, meados de 1560, e a que se desenvolve no século XXI, em 2002. Por exemplo; Primeiro capítulo: A estrela enterrada, Moçambique, dezembro de 2002 e o terceiro capítulo: Primeiro manuscrito: o mar nu, Escrito Goa, janeiro de 1560.
Pode-se observar nas introduções de cada capítulo, que há poemas, ditos populares ou mensagens dos próprios personagens do livro antes de se retomar a história. Destaco uma epígrafe do capítulo três que demonstra isso:
Dizem-me que pode muito o demónio com seus