Resenha A presença de crianças de etnia cigana
A presença de crianças de etnia cigana, em contextos de educação formal, é um “fenómeno” recente que, cada vez mais, ocorre na sociedade portuguesa. Tal situação coloca as crianças perante a incontornável necessidade de se confrontarem e de se relacionarem com outras crianças ciganas e não ciganas, que transportam consigo um conjunto de representações do que significa ser criança cigana e não cigana. Estas representações permeiam as interacções entre as crianças, num contexto de educação formal, onde existe uma ordem social adulta monocultural destinada à totalidade das crianças. No sentido de procurar compreender como é que as crianças de etnia cigana vivem a sua experiência num JI, em que existem outras crianças - ciganas e não ciganas - leva-se a cabo uma pesquisa num JI do ME. Esta, insere-se no âmbito de uma metodologia de orientação etnográfica, onde se privilegiou a observação participante - técnica capaz de colocar o investigador face à possibilidade de aceder aos mundos sociais e culturais das crianças e, assim, propiciar a recolha de informações em primeira mão, que permitam descodificar os sentidos por elas atribuídos à sua experiência vivida no JI, na vida de todos os dias. Ao longo do trabalho, tenta-se perceber (i) a ordem social instituída no JI, nomeadamente, no que concerne à organização do espaço/tempo, à distribuição e organização dos materiais por forma a explicitar, as suas regras e rotinas; (ii) de que maneira, perante a ordem institucional, as relações entre os grupos de pares se vêem dinamizadas ou constrangidas, e (iii) o(s) modo(s) como, no JI, as crianças se relacionam com aquela ordem institucional, ali (re)construindo as suas próprias ordens sociais. Procuram-se, assim, entender os processos interaccionais que emergem e se desenvolvem entre as crianças, no decorrer das diferentes rotinas implementadas no JI, nomeadamente, nos momentos da apresentação das surpresas, ou nos