Resenha a Cruz da Desigualdade
No capítulo introdutório, Vieira ou a cruz da desigualdade, Bosi compara dois contemporâneos: Gregório de matos e Antônio Vieira. O Universo deste, comparado com o “Piccolo Mondo”, mostra-se mais largo. Pois, traz em si uma estatura e um horizonte internacional. Jesuíta, Conselheiro de reis, confessor de rainha, preceptor de príncipes, diplomata em cortes europeias, defensor de cristãos- novos e com igual zelo missionário no Maranhão e no Pará. Depois, enfatiza Vieira com algumas de suas características fisiológicas mais fortes: Olhos negros e vivíssimos, cercados de olheiras sofridas onde, cada traço deste rosto, parecia uma luta, perdida sempre, que outra a irá substituir sem tréguas nem desalento. (119) O Autor relata, também, que buscando persuadir nobres e clero a pagarem impostos na tarefa ingente de reconstruir o reino: “a verdadeira fidalguia é a ação”. Importava dominar a máquina mercante seguindo o modelo estratégico das potências rivais Inglaterra e Holanda com seu modelo de companhia das índias orientais fundada por Elisabeth I em 1599. Inspira, assim, D. João IV a fundar uma companhia das índias ocidentais que começa a funcionar em novembro de 1649. Contudo, a sociedade Ibérica do século XVII não conhecia ainda a plena hegemonia do pensamento burguês. Tentando, por isto, convencer os seus ouvintes (D. João IV, Os nobres, Os teólogos, Os letrados de Coimbra, o santo ofício) a participarem de um empreendimento a ser financiado em boa parte por banqueiros e mercadores de extração cristã-nova. Resultando, em termos de retórica Barroca, em uma singular simbiose de alegoria bíblica- cristã e pensamento mercantil.
O Sermão de São Roque, pregado na capela real em 1644, em um primeiro momento, segue o topos das falsas aparências. Este paradoxo do remédio perigoso usa de história e exemplos tomados à escritura e ao Flos Sanctorum. (121)O discurso da ação entre a política e a