Resenha sobre a revolução hannah
O livro “Sobre a revolução”, dedicado por Hannah Arendt a Gertrud e Karl Jaspers e publicado em 1963, pouco mais de dez anos depois de “Origens do totalitarismo” (1951), é um marco na literatura política do século XX. Ele faz parte do período mais rico da trajetória intelectual da filósofa, quando foram escritos também “A condição humana” (1958), e a coletânea de ensaios “Entre o passado e o futuro” (1961). “Sobre a revolução” indaga sobre o significado e o legado das duas revoluções fundadoras da história política moderna — a francesa e a americana.
O livro inicia indicando os traços comuns aos dois eventos, que permitem chamá-los de revolucionários. Nos dois casos ocorreram mudanças radicais no curso dos acontecimentos e ambos foram marcados pela violência. Além disso, os dois estampam o pathos da novidade — o que supõe uma compreensão linear do tempo tipicamente moderna. Porém, nem a mudança nem a violência são em si mesmas revolucionárias. A primeira só é revolucionária quando instaura um novo início. A segunda apenas quando, além de libertar da opressão, constitui o reino da liberdade e cria uma forma totalmente nova de governo republicano. Assim, duas forças atuam nas revoluções que são dificilmente conciliáveis. De um lado, estes eventos são pura espontaneidade e encarnam a experiência de agir livremente, de outro, precisam edificar novas instituições estáveis e duradouras que possam abrigar a liberdade. O peso diferente de cada uma destas forças bem como a relação entre elas condicionaram o destino contrastante das duas revoluções.
A revolução francesa eclodiu em um ambiente de opressão de uma massa da população extremamente pobre. Além disso, não havia na história pré-revolucionária da França nenhuma experiência no trato das questões políticas fora dos círculos oficiais. A revolução foi aclamada em seu apelo libertário. No entanto, logo em seguida, a força da questão social