Reconheço que não conhecia muito do trabalho da amada coreógrafa alemã Pina Bausch, cujo trabalho é diferente de tudo que já havia visto. Trabalho que incorpora de maneira brilhante terra, água, rochas e as ruas da cidade, tudo com música e movimentos brilhantes. Wim Wenders, diretor do filme, parece ser um dos grandes admiradores de Pina, que descobriu que tinha cancêr e morreu pouco antes do início das filmagens. Talvez o ideal fosse que a voz dela permeasse o documentário, mas ao invés disso parece cercar o vazio que ficou com sua ausência. Da sua presença, ficou apenas algumas filmagens antigas. Para manter essa presença mais forte, ficam as memórias dos dançarinos que trabalhavam com ela. São esses comentários que nos fazem perceber a extensão da adoração por essa mulher. Sempre que se ouve sobre ela, as vozes parecem vir em forma de reverência. Até mesmo podemos sentir que ela morreu pouco antes pelo lamento e dor com que falam. Claro que não os vemos realmente falar. Wenders se utiliza de uma tática muito mais sutil. Ele dá closes nos rostos dos bailarinos enquanto ouvimos suas vozes, em alemão, inglês, francês e até mesmo em português, dependendo da nacionalidade do entrevistado. Como se fossem um pensamento talvez. E cada um deles reage de forma diferente, uns olham para a câmera, outros parecem procurar um ponto distante. Agora me encontro em dificuldades de descrever as danças que vemos nas telas. Posso descrever o que vi, mas não consigo explicar o que senti. São quatro coreografias diferentes que se intercalam durante o filme. Nenhuma parece ir do início ao fim. Uma delas, a que achei a mais interessante, "Cafe Mueller", foi usada por Almodovar no filme Fale com ela. Wenders falou bastante sobre seu uso da tecnologia 3D para realizar o filme. Como outros gênios do cinema, Spielberg, Scorcese e Herzog, por exemplo, ele só se utiliza agora da tecnologia quando entende o porquê de usá-la e como. Ele posiciona a câmera entre os dançarinos de forma a