resenha peões
“Peões”, de Eduardo Coutinho, é um documentário criado a partir de memórias daqueles que estiveram presentes nas greves do ABC paulista nas décadas de 70 e 80, trazendo à tona lembranças principalmente daqueles que permaneceram anônimos. Os entrevistados são apresentados a fotos e vídeos e convidados a contarem um pouco de suas histórias pessoais e com a greve. São nordestinos que foram a São Paulo atrás de melhores condições de vida e trabalho e acabaram por tornarem-se, na maioria dos casos, metalúrgicos de grandes empresas como a Volkswagen e Scania. Em geral, os participantes relatam rotinas de sofrimento, contando que eram inclusive tratados como escravos, muitos trabalhando meses sem folgas e salário digno. Porém, mostram-se orgulhosos de seu trabalho e de sua luta e sentem-se parte da construção da história do país e da conquista dos direitos, como conta Nice, que diz que lutou para que hoje as pessoas pudessem sair às ruas. Eles contam também sobre o cenário de grande repressão sofrida pelo movimento dos metalúrgicos e a presença do choque, o que faz Zacarias afirmar que parecia uma guerra. Em 1980, quando os metalúrgicos pararam a indústria automobilística por 40 dias, houve intensa repressão e demissões em massa. Mas eles resistiram e a luta não parou. Luiza, a mulher de Bitu, afirma que a vida do marido era a política, o que se percebe que é algo recorrente entre os entrevistados. Homens e mulheres que lutaram nas greves relatam que não viram seus filhos crescerem, que iam a assembleias doentes ou sadios e que, ao fim do expediente, não iam para casa, e sim para o sindicato. Assistindo a essas pessoas falarem, percebe-se que suas vidas e a luta por direitos sempre estiveram entrelaçadas, não havendo distinção entre uma e outra como partes de uma mesma história. A história de cada um foi sendo construída em assembleias, passeatas e em greves, ao mesmo tempo que no espaço da família. Tal atitude, hoje em