Resenha Não-Objeto Ferreira Gullar
No texto, escrito em tom de manifesto, Ferreira Gullar aponta que a arte mais avançada deste século se afastava de suas modalidades tradicionais, produzindo objetos especiais, que ele denominou não-objetos. Nem pintura, nem escultura, eles se realizariam "fora dos limites convencionais da arte", e teriam como intenção a necessidade desse rompimento dos limites impostos pela tradição artística.
O autor deixa claro o que o não-objeto NÃO é: objeto negativo, oposto do objeto, antiobjeto (uma crítica clara à arte conceitual). Ele É: objeto especial, síntese de experiências sensoriais e mentais, corpo transparente ao conhecimento fenomenológico, não deixa resto, pura aparência.
O não-objeto dura só um instante. Trata-se do subentendido, ou seja, de todo conhecimento que a obra agrega em seu tempo de vida. Ela se coloca, fala por si, transforma o espaço, toma conta de um lugar, como Ferreira Gullar mostra no texto quando fala da retirada da moldura.
Creio que nesse texto, ao colocar os problemas do não-objeto, e de sua vital necessidade de ser, o que Gullar pretende é desfazer o nó metafísico que envolve o próprio conceito de coisa. Ou seja, a luta contra o objeto me parece um embate entre o fenômeno que ele nos causa e a coisa em si, seu real significado.
O não-objeto é a formulação primeira do mundo, é a resposta dada pela obra no instante mesmo de nosso contato com ela, é o que ela é, e ao mesmo tempo o que a tornamos. O não-objeto é o que se dá no intervalo entre essas duas verdades.