Resenha: Minha Vida na Mata dos Fantasmas
Minha Vida na Mata dos Fantasmas, do autor nigeriano Amos Tutuola, é uma obra enigmática que envolve desde suas primeiras páginas um mundo repleto de magia e mistério, além das estranhas criaturas do outro mundo. O texto se inicia com um garoto de sete anos de idade que, ao lado de seu irmão mais velho, se separa da mãe em meio ao caos de um conflito armado. Juntos, os irmãos fogem do conflito, mas na fuga, o garoto mais novo, o protagonista do livro, se perde do irmão mais velho. Assustado com os ruídos do conflito e sem distinguir o “mal” do “bem”, ele acaba entrando numa densa mata: a mata dos fantasmas. O garoto permanecerá mais de vinte e quatro anos vagando na mata, passeando pelo mundo fantasmagórico, repleto de diferentes cidades fantasmas, reis, cerimônias, festivais, casamentos, e até de uma igreja metodista. Nesta viagem, é maltratado, amarrado, açoitado. É transformado em diferentes animais. Utiliza-se de magias, aprende a viver entre os fantasmas e se fortalece. Em determinado momento, encontra seu primo falecido, como rei de uma das cidades fantasmas e se estabelece no local. Entretanto, está insatisfeito: deseja retornar a sua casa entre os humanos. Seu objetivo é alcançado com a ajuda de um fantasma conhecedor da feitiçaria que o ajuda a escapar. Ao retornar ao mundo ao qual pertence, reencontra sua família perdida.
Este pequeno resumo pode ser suficiente para ter uma visão geral da obra, mas é necessário penetrarmos mais profundamente nela para entendermos a questão da representação da África ali presente, assim como a questão da partilha da África que a obra supostamente alude. Para respondermos satisfatoriamente a primeira questão, precisamos entrar no mundo folclórico nigeriano. Para responder a segunda, usarei todo um arcabouço metafórico para justificar como certas características do livro possuem uma relação com a história do tráfico escravo e buscarei encontrar trechos que fazem menção à partilha