Resenha Isso é ideologia
Será que Marilena Chauí tem mesmo uma ideologia? Essa é uma questão relevante, pois o seu livro - O que é Ideologia, que tem recebido enorme acolhida do público leitor, haja vista esta resenha - deixa claro que ela mesma pensa não ter ideologia e recomenda aos explorados e oprimidos evitá-la, "porque falar em ideologia dos dominados é um contra-senso, visto que a ideologia é um instrumento de dominação" (p.110). É interessante que a autora diga isso de uma maneira tão decisiva, sem esclarecer que se trata de um contra-senso apenas em relação ao conceito que ela mesma tem como verdadeiro. É como se disséssemos: "Sei que as ruas são asfaltadas; sendo assim é um contra-senso falar em ruas de terra".
Vejamos como pode ser contestada ou não a ideologia, nas palavras da autora:
"Com isto, Marx e Engels dão à teoria um sentido inteiramente novo enquanto crítica revolucionária: a teoria não está encarregada de 'conscientizar' os indivíduos, não está encarregada de criar a consciência verdadeira para opô-la à consciência falsa, e com isto mudar o mundo. A teoria está encarregada de desvendar os processos reais e históricos enquanto resultados e enquanto condições da prática humana em situações determinadas, prática que dá origem à existência e à conservação da dominação de uns poucos sobre todos os outros. A teoria está encarregada de apontar os processos objetivos que conduzem à exploração e à dominação e aqueles que podem conduzir à liberdade" (p.74). O papel da teoria é desvendar os processos reais e históricos, apontando tanto os caminhos objetivos que conduzem à exploração e à dominação quanto àqueles que podem conduzir à liberdade. A teoria tem uma função crítica que lhe é inerente, mas não assume valores externos ao processo objetivo. Então, ela é isenta em relação aos valores a partir dos quais os homens farão suas opções no campo objetivo das possibilidades. São os homens reais e concretos, como reconhece Marilena Chauí, que escolhem o