Resenha filme O estomago
O livro conta a história de um imigrante nordestino chamado Raimundo Nonato, que veio fazer a vida na Terra da Garoa. Ele descobre a vocação inata para a arte culinária. Paralelamente, o livro mostra que, no presente, Raimundo está preso. Resta-nos a nós, leitores, descobrir os motivos que o levaram a parar atrás das grades.
Com uma narrativa hipnotizante, as duas histórias: Raimundo no passado, chegando e se estabelecendo em São Paulo, e Raimundo no presente, se desdobrando para adaptar-se ao mundo-cão do presídio, se apresentam e se intercalam bem entrelaças, bem pontuadas, tudo muito ritmado e bem costurado.
Destacam-se no livro, além dos pratos elaborados por Raimundo, ao longo do filme (uma empolgante - e às vezes não muito recomendável - aula de culinária), a prostituta Íria e, é claro, as deliciosas coxinhas preparadas pelo aprendiz de cozinheiro.
Todos estão em busca da completude, de algo que lhes confira o status da cidadania, de algo além da simples alimentação necessária à sobrevivência. São indivíduos que desejam algo mais para se tornarem plenos.
O diretor paranaense Marcos Jorge opta pela contraditoria inserção do universo da gastronomia no chamado “submundo” - o que se interpreta como uma metáfora da força da arte em ambientes improváveis. É nesse sentido que a premissa básica advém da consideração de que as seqüências do filme revelam uma compensação estética, de tal modo que a violência impactante e o tom grotesco ficam reservados para o desfechoo.
O roteiro vai misturando o presente e o passado, o antigo Nonato e o novo, e brinca muito bem com aquele ditado que diz que é possível conquistar alguém pelo estômago, uma vez que Nonato se dá bem na vida justamente pelo estômago dos outros, porém o livro não foi baseado em um ditado e sim no conto “Presos pelo Estômago” do livro “Pólvora, Gorgonzola e Alecrim.”, de Lusa Silvestre.