Resenha filme "A laranja mecânica"
O filme Laranja Mecânica nos dá uma boa ideia do que seria um controle de seres humanos e de como seu uso, a pretexto de ressocialização, poderia se tornar sedutor. O protagonista do filme acaba sendo forçado a um processo de ressocialização que visava o ajustamento de sua personalidade a padrões socialmente desejados.
Além de confrontar indivíduo e sociedade, outros aspectos interessantes de Laranja Mecânica são a discussão que suscita sobre a função da pena no Direito e a poderosa metáfora sobre a forma como geralmente dá-se o jogo político na sociedade.
Ao aceitar ser paciente voluntário do Tratamento Ludovico, o protagonista imediatamente sai da cadeia. O raciocínio é simples: se ele não mais representará uma ameaça para a sociedade, não precisa estar preso. O diretor da prisão, porém, discorda e assina sua liberação a contragosto. Para ele, o Estado deveria se vingar de Alex – “olho por olho, eu digo. Se alguém bate em você, você revida, não é? Por que o Estado, severamente agredido por vocês, hooligans, não deveria revidar? A nova política é dizer não. A nova política quer transformar o mal em bem. Tudo isso me parece tremendamente injusto”.
Esta dualidade nada mais é que o confronto entre a função absoluta e relativa da pena, também chamadas, respectivamente, função retributiva e prevencionista. Para a absoluta, defendida por Kant, a pena deveria retribuir moralmente a agressão feita pelo contraventor – portanto, ainda que ele deixe de representar uma ameaça para a sociedade, deve ser punido. Já quem defende a postura relativa pensa que a pena deve somente prevenir novos crimes – logo, se Alex é incapaz de novos atos violentos, deve ser solto. Mais uma vez, o filme não traz respostas a respeito – apenas provoca no espectador o questionamento e a reflexão.