Resenha Elenice
Segundo Alberto da Costa e Silva, as mulheres africanas, no que se refere ao comércio a retalho na África Ocidental, eram em sua maioria argutas (engenhosas), experientes e bem-informadas, elas sabiam o que melhor se colocava em cada praça e o que ali se adquiria com demanda certa em outros lugares. Vendiam pimenta e compravam inhame que iam oferecer mais adiante. E lá adquiriam pano branco, que levavam a tingir pra trocá-los depois. “Arrematavam em grosso e revendiam em pequenino. Jogavam com os preços, aproveitando-se muitas vezes de diferenças mínimas.”
As mulheres tinham bastante desenvoltura no trato comercial e ensinavam a seus maridos sobre este tema, ao mesmo tempo em que essas esposas se acostumavam nas negociações com europeus. É interessante observar que inicialmente, Alberto da Costa e Silva afirma que o alvo desse comércio não eram os homens adultos, como no tráfico atlântico, visava, primordialmente, as mulheres, acostumadas aos trabalhos duros e repetitivos e as crianças, cuja adaptação à nova cultura seria de mais fácil inserção. As mulheres, por possuir um manejo mais aprimorado quanto ao comércio, dominavam os mercados rurais de alimentos na África Ocidental, e se beneficiavam da expansão da demanda econômica resultante das regiões costeiras.
A esposa africana era uma importante parceira para o lançado. “Ao desposarem as africanas, os portugueses lançados na costa passaram a ter nelas as melhores mestras e as melhores sócias. Por meio delas, estabeleceram vínculos com as estruturas de mando locais”. As mulheres africanas auxiliavam no processo de adaptação do lançado às práticas culturais da sociedade na qual ele havia se inserido, de forma que não ofendesse suas tradições. Além disso, em várias sociedades da Guiné, as mulheres exerciam a função de comerciante, e assim inseriam o marido nas redes comerciais do local.