Resenha do livro a historia do pranto
Terminei.
Escrito pelo não muito conhecido (por mim) romancista argentino Alan Pauls, História do Pranto é mais um daqueles livros que merecem ser lidos totalmente longe do automático. Precisei fazer duas leituras para poder conseguir entender um pouco mais do seu texto. Não, o que nos é contado, os fatos, a história em si, não é complicada, a dificuldade está na forma empregada pelo narrador, e é preciso adiantar: ela sufocou a narrativa.
A melhor maneira de me fazer entender perfeitamente é exemplificando com um trecho: Não conheço muitos autores que se utilizaram dessa técnica, na verdade, sei de apenas dois: Paul Harding, no A restauração das Horas, único livro dele que li e, aqui posso dizer com maior segurança, Thomas Mann. Este ama o aposto, venera a vírgula, é obcecado por esse tipo de construção frasal digressiva, de maneira que, se não estivermos totalmente concentrados no raciocínio inicial, estaremos perdidos antes de finalizar a frase, e quando assim o fizermos faremos a pergunta: ele falou o que mesmo no começo? Então, estimado leitor, esteja ciente dessa “dialética dos apostos”: todo o livro é assim.
A narrativa nos traz um emaranhado de lembranças, reminiscências, que perpassam da infância à vida adulta do protagonista (cujo nome, aliás, não nos é apresentado). Sabemos que ele foi um garoto filho de pais esquerdistas divorciados, classe-média argentina, extremamente sensível e peculiar, que não conseguia chorar se não na presença do pai (ponto chave do livro, para mim, essa relação dele com o pai), e que tinha pelo herói Super-Homem um particular fascínio. Assim como na infância, já na adolescência, gostava muito mais de ouvir a falar. Frequentava, com seu pai, um “pub” no qual um artista, estilo Chico Buarque, cantava suas peças contra o sistema político do seu país. Apaixonou-se por uma guria vinda de uma família dita, politicamente, de direita (entenda-se aqui direita não pelo viés exclusivamente