Resenha do Livro São Bernardo
SÃO BERNARDO
Num primeiro instante pode até parecer uma história de vitória de seu narrador-protagonista, Paulo Honório, que foi de guia de cego na infância até se tornar latifundiário do interior de Alagoas. No entanto, a questão principal é muito mais aguda e amarga.
Para alcançar sua ascensão social, o narrador paga um preço altíssimo, que é a destruição do seu caráter afetivo. Na verdade, a perda de sua humanidade pode ser entendida como fruto do meio em que vivia. Massacrado por seu mundo, acaba tornando-se um herói problemático, defeituoso. No princípio, sem saber quem são seus pais, Paulo Honório é cuidado por uma mulher, Margarida. Ajuda-a se sustentar na confecção de doces. O fato mais importante nessa sua alvorada foi quando se apaixonou por Germana, que sofria na mão de João Fagundes. Em defesa dela, o protagonista esfaqueia o malfeitor, o que lhe rende um certo tempo de prisão. É a última vez que deixará o mundo passar por cima dele.
Consegue empréstimo com um sujeito chamado Pereira. É o início da virada de jogo. Além de conseguir negociar juros mais baixos, nutre um sentimento de desforra pela exploração que mais tarde será saciado, quando, por cima, hipoteca os bens do agiota, tomando posse deles no final. E tudo sem remorso. Tornou-se um rolo compressor. Quem se opõe, é descartado, quando não é esmagado.
Paulo Honório torna-se uma pessoa determinada a vencer na vida. Com o dinheiro do empréstimo, compra algumas mercadorias e torna-se caixeiro viajante. Com o lucro, investe em seu próprio negócio e compra mais mercadorias. Vai, com enormes sacrifícios, aumentando seu capital de giro.
Houve um momento em que tentaram enganá-lo. Acerta negócios com um indivíduo que parece recusar-se a pagar. Paulo Honório obtém o dinheiro graças à ajuda de alguns capangas. É quando conhece Casimiro Lopes, que se tornará para sempre tão fiel quanto um cão. É também quando se cristaliza seu caráter de rolo compressor.
Dono de um certo padrão de vida