resenha do filme o bicho de sete cabeça
Este filme é duro, chocante, cruel. Duro porque apresenta a realidade dos hospícios manicomiais com uma transparência que parece de documentário e não de filme; chocante porque os espectadores no mini cinema de um shopping ficaram sofrendo o impacto "da medicina manicomial", e cruel porque as cenas de violência desumana em nome de um tratamento psiquiátrico mostravam sem alegorias ou metáforas como o homem pode ser o lobo do homem.
A psiquiatria manicomial retratada no filme não está muito longe da situação nos hospícios de Paris, que Pinel tentou combater no fim do século XVIII na Sarpetriére. Pinel encontrou pessoas torturadas por serem loucas, presos a correntes de ferro como se ainda no século XVIII permanecesse a visão demoníaca para doença mental, que vinha da Idade Média.
Fiquei sabendo pelo artigo "A preparação de atores do filme 'Bicho de Sete Cabeças(1)" , que Sérgio Penna fez um trabalho de preparação dos atores para que eles pudessem assumir a loucura dos personagens, é importante dizer que ele e o ator do filme conseguiram assumir plenamente o comportamento psicótico dos personagens e a transformação do Neto (Rodrigo Santoro) de pessoa praticamente normal para um ser inseguro, vacilante, se desligando passo a passo da sua consciência e de sua vontade.
No filme se retratam os familiares que "cheios de boas intenções" ficam cúmplices do hospício e de suas cruéis torturas, só tirando o Neto do hospício quando já era tarde. A violência sádica dos enfermeiros, que usam todos os recursos do hospício para subjugar os pacientes, desde a antiga camisa de força, o quarto "forte" e o eletrochoque, terrível arma que apaga a memória imediata e que se aplicado com freqüência pode levar uma pessoa a deixar de ser gente, a perder a vontade e a consciência de si, a ser um "zumbi".
No dizer do prof. Doutor Emílio Mira y López os tratamentos de choque usados