Resenha do filme pele de asno
Cecília Marins Pires
Em Pele de Asno, o conflito inicia-se com a doença da rainha que, à morte, solicita um juramento do marido, evidenciando tanto a vaidade quanto o sentimento de posse sobre ele. Pede-lhe que só se case com uma princesa mais bela e mais virtuosa que ela.
Pressionado a se casar novamente, o rei volta seus olhos para a própria filha, legítima herdeira da mãe. Não há, no filme, qualquer obstáculo ao casamento, exceto o desejo da princesa, que, orientada pela Fada Lilás, pede ao pai coisas aparentemente impossíveis, como vestidos da cor do tempo, da Lua, do Sol e, por último, a pele do asno que garantia a riqueza daquele reino. O pai tudo lhe dá, na intenção de que o casamento ocorra, mas ela foge, levando consigo os bens pedidos. A princesa, ainda que contrariando o regime de obediência e subserviência vivenciado pelas mulheres na época, mostra-se senhora de seus desejos, não se submetendo ao desejo do pai.
Para fugir do destino cruel que lhe foi traçado vai ser punida , como se fosse culpada por ter provocado tal situação, e degradada de sua condição de princesa na granja a que chega envolta na pele do asno. Ela passa a realizar as tarefas mais humilhantes.
Mais tarde, porém, resgata sua posição social através de estratégias que vão levá-la ao encontro do filho do rei. Ao passar pela aldeia, ele a vê, pela fresta da janela, vestida com o vestido da cor do sol, dela enamorando-se perdidamente.
Doente, o príncipe solicita que lhe tragam um bolo feito por Pele-de-Asno. A princesa esmera-se na preparação do alimento e, ao manipular a massa, deixa cair seu anel que se mistura no bolo. O filme revela, nesse momento, a possibilidade da astúcia feminina, pois é através desse objeto, encontrado pelo príncipe, que Pele-de-Asno será chamada ao castelo (tanto o bolo quanto o anel despertam ainda mais o desejo do príncipe pela princesa que ele havia observado). O anel é o critério de eleição da futura esposa,