Resenha do filme carandiru
Carandiru conta a história de um médico (Luiz Carlos Vasconcelos) que se propõe fazer um trabalho de prevenção à Aids no maior presídio da América Latina: a Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecida como Carandiru. Lá, ele entra em contato com o que, aqui fora, a maioria das pessoas tem medo de imaginar: violência, superlotação, instalações precárias, falta de assistência médica e jurídica. Porém, o médico testemunha solidariedade, organização e uma grande disposição de viver.
Ao contrário do que se possa imaginar, Carandiru é bem mais do que um filme sobre a prisão. Ele também não fala apenas sobre a violência predominante dentro da cadeia ou sobre as injustiças da lei. Nem mesmo é uma peça de acusação contra os detentos.
O filme conta histórias, fala de seres humanos e destrói alguns mitos tão popularizados na mente das pessoas, como a violência, por exemplo. Obviamente ela existia, fazia-se presente no dia-a-dia da cadeia. Mas, na maior parte do tempo, ela era controlada pelos próprios prisioneiros. Isso era necessário para ter um mínimo de segurança física e pessoal de cada um. Por isso, a "legislação" interna, a palavra de honra e um certo conceito de respeitabilidade eram indispensáveis. E rigorosamente respeitados.
Estas "leis" no Carandiru eram amplas, irrestritas e universais, atingiam a todos os pavilhões e a todos criminosos. Um novato que ainda não conhecesse as regras rapidamente aprendia a respeitá-las e da forma mais dura: na pele. Por exemplo, palitar os dentes enquanto ainda havia gente comendo, era considerada uma séria falta de educação, passível de surra. Prestar atenção na mulher dos outros nos dias de visita, muito pior.
Mas o filme também não faz uma defesa dos presos. Para ele, é óbvio que criminosos devem ser punidos conforme a lei. No entanto, há diferentes tipos de crimes e, portanto, diferentes tipos de pessoas dentro de um presídio. A sociedade, em geral, coloca todos no mesmo "saco". Essa distinção que Varella não