Resenha do Filme anticristo
Este filme dedica-se a pouquíssimos. Talvez ainda não viva nenhum deles. Parafraseando as primeiras frases contidas no prólogo da famosa obra do mais notório filósofo alemão, o que se esperar de um filme homônimo a peça literária de Friedrich Nietzche, “Anticristo”, a qual o roteirista e diretor afirma ter em sua cabeceira desde a infância? Uma crítica explícita ao cristianismo, é claro. Engana-se o espectador desavisado. Escrito em 1888, último ano antes da perda total de lucidez de F. Nietzche, o livro “O Anticristo” é uma das maiores críticas já feita ao cristianismo até hoje e embora o polêmico cineasta dinamarquês Lars von Trier seja fã declarado da obra, as semelhanças são mais sutis do que se possa imaginar. Nietzche ataca a religião como um todo enquanto Lars trata da relação de inferiorização feminina e das consequências de uma sociedade patriarcal no comportamento das mulheres. Trata da misoginia sem ser misógino, assim como “Cem anos de escravidão” trata do racismo sem ser racista. Tem-se o lado oprimido em sofrimento extremo por condições que teve pouca ou nenhuma chance de mudar enquanto até flerta com a aceitação e culpabilização da vítima. O filme divide-se em quatro capítulos(Sofrimento, Dor, Desespero e Três mendigos) prólogo e epílogo. A abertura fortíssima em preto e branco e câmera superlenta que lembra uma graphic novel é o mote pro desenrolar da história. Envoltos em luxúria e prazer, o casal interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg(que não recebem nome propositalmente durante a trama) se descuida da segurança do pequeno Nick e a criança cai da janela vindo a falecer. Tem-se início a legítima fase de sofrimento, onde Ela acaba ficando internada por mais de um mês remoendo a dor da perda do filho e o sentimento de culpa que a destrói lentamente. Ele, com fisionomia sombria e ar de superior, não exterioriza sua dor e julga-se capaz de resolver o problema dela com sua experiência em tratamentos