Resenha do Conto "A Cartomante" - Machado de Assis
Resenha – A cartomante
O mestre dos enigmas
Há contistas puramente românticos, há aqueles que produzem textos insossos, há aspirantes a escritores de contos, há aqueles que preferem distanciar-se da realidade, e há Machado de Assis.
Ao desenvolver seu estilo próprio, marcado pela ironia e sarcasmo e pela “inovação” em analisar as personagens psicologicamente em textos de fundamentação realista, temos obras de arte de linguagem nem tão rebuscada, nem tão formal, portanto relativamente fáceis de serem entendidas, acessíveis a quem lê-las.
Contudo, para que o leitor possa contemplá-las total e verdadeiramente, este deve ter ao menos um nível mínimo de conhecimento de mundo para entender as intertextualidades e uma visão aberta para enxergar o humor de Machado nas entrelinhas.
Com relação à intertextualidade, podemos retirar um exemplo diretamente do conto A Cartomante (ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.), em que Machado cita uma personagem shakespeariana:
Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido a véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
O trecho acima é o primeiro parágrafo da história. Mostra a discussão dos amantes – Rita tinha ido à cartomante para saber se Camilo a esqueceria; a resposta fora negativa. O homem falou-lhe que isso era besteira, que ele a queria muito; repreendeu-a por sua atitude: que parasse de frequentar essas casas, pois Vilela poderia vir a saber. Os dois estavam na casa de uma comprovinciana de Rita.
Através de um flashback, Machado ajuda o leitor a compreender o que levou tais personagens a se encontrarem em tal situação. Este conto machadiano conta com, basicamente, quatro personagens principais: Vilela, Camilo, Rita e a cartomante. Os