Resenha- Dialética da Malandragem
Antônio Cândido, em sua crítica “Dialética da Malandragem”, traz à tona a tese do primeiro malandro da literatura brasileira, aliás, o povo brasileiro vive e conhece bem a cultura do “levar vantagem em tudo”. Para esse fim, Antônio Cândido toma como objeto de sua crítica a consagrada obra do escritor Manoel Antônio de Almeida, “Memórias de um Sargento de Milícias”. Antônio aponta também em sua crítica a dificuldade de periodização da obra de Almeida, se Romântica ou Realista, problema, diga-se de passagem, para a visão tradicional da literatura brasileira. Outro ponto não menos importante, e a meu ver crucial de sua crítica, é provar, por evidências da própria obra de Manuel Antônio, que “Memórias de um Sargento de Milícias” não pode ser categorizado como um romance picaresco. Por fim, o último ponto contundente da crítica de Antônio Cândido é o fato de “Memórias de um Sargento de Milícias”, doravante MSM, não ter vinculação com o poder vigente da época, asserção esta que vem de encontro às ideologias presentes na tradição literária daquele momento.
Antônio Cândido começa sua crítica evocando José Veríssimo, o qual definiu “Memórias de um Sargento de Milícias” como sendo um romance de costumes, por apresentar descrições do modelo burguês do tempo de D. João VI: um realismo antecipado. Já, Mário de Andrade afirma ser um romance marginal. Parece, segundo Cândido, que os traços estéticos da obra de Almeida não são suficientes para adequá-la em uma das duas considerações. Cândido aponta muito bem uma característica, a meu ver, das mais importantes: o descompromisso de Almeida com as correntes tradicionais das escolas literárias de então, por exemplo, o indianismo.
Outra questão levantada é o romance MSM sofrer o jugo de ser considerado picaresco, pela presença do anti-herói burlesco e malandro, bem ao modo das correntes literárias espanholas, largamente difundidas na Europa nos séculos XVI e XVIII.