Resenha de "Olhos de Madeira - Nove reflexões sobre a distância" de Carlo Ginzburg
1143 palavras
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Ginzburg introduz seu trabalho citando o primeiro formalismo russo, concebendo a crítica literária como conhecimento rigoroso e a arte enquanto mecanismo. Evoca os nomes de Roman Jakobson e Viktor Chklovski como pilares importantes deste campo intelectual, tendo Chklovski escritos importantes sobre a psicologia humana, estudando seus hábitos inconscientes, o poder da automatização sobre o homem. É bastante interessante o trecho onde ele diz que a arte serve para que consigamos ver ao invés de apenas reconhecer. Sua função seria ressuscitar em nós a percepção da vida, nos tornar novamente sensíveis às coisas ao nosso redor. Para tal, a arte se utilizaria de dois procedimentos: o estranhamento da coisa e a complicação da forma, com a qual tornaria mais difícil a percepção e consequentemente aumentaria sua duração. Ele aponta que a arte é um meio de experimentação do devir, e o que já foi não tem importância. O próprio processo de experimentação é um fim em si mesmo, daí a necessidade de sua prolongação. O hábito torna inerte esta percepção.
Ginzburg faz um paralelo entre a ideia de Chklovski sobre a arte ser este instrumento em prol da percepção, e a obra de Proust em relação à memória involuntária. O nome de Proust não aparece em sua obra de 1917, “Recherche”, sendo os exemplos de estranhamento resgatados sobretudo de Tolstoi. Analisando o conto “Kholstomer”, Chklovski ressalta que a sensação de estranhamento não se dá através da percepção humana, mas do animal. Transcrevo aqui interessante trecho que ilustra a ideia:
“Muitos dos homens que me definiam como “seu” cavalo não cavalgavam; era outra gente que me cavalgava. Tampouco me davam o feno; isso também eram outros que faziam. Não me fizeram bem os que me chamavam de “meu cavalo”, e sim cocheiros, veterinários ou outras pessoas estranhas. Quando, mais tarde, ampliei o horizonte das minhas observações, convenci-me de que o termo “meu” não se refere apenas a nós, cavalos, mas, em geral, vem unicamente de um