Resenha de livro
Cristovão Pereira da Abreu, português, jovem, “costas quentes e proteção garantida”, ousado e ambicioso. Eis o personagem principal do livro, O cavaleiro da terra de ninguém, que narra a chegada do jovem ao Brasil e de como fez carreira e alcançou fortuna na colônia.
Não há a intenção de recontar os passos do personagem, mas relembrar de fatos que marcaram a sua história e ajudaram a transformar a história do Brasil. Transcrevo um trecho do livro, para que possamos analisar como a sua ação na história se baseia na ética da convicção e na ética da responsabilidade do sociólogo Max Weber.
“Aos dezessete anos, por motivo que nunca consegui tirar a limpo, talvez desavenças familiares, deixou a vila de Ponte de Lima e embarcou num mercante cujo casco abria-se águas que lhe manavam dentro que nem ribeiro em dia de chuvarada. Assim, arrostando fomes, frios, enjoos e demais tormentos inerentes à travessia do Mar Atlântico, deu com os costados no Rio de Janeiro quase só com a roupa do corpo, sem nada de seu, além de um respeitável nome de família e da inabalável determinação de fazer fortuna a qualquer custo. Ainda muito jovem, bafejado por feliz conjunção de fatos, ei-lo alçado ao cargo de contratador de couros na Colônia de Sacramento...
...Desbancado pelos perros castelhanos de sua privilegiada posição na Colônia, torna ao Rio de Janeiro sem cabedais, sem ocupação e, pior que tudo, com pecha de leviano e disparato. Reergue-se pouco a pouco. Bem ou mal, sobrevive. Não mede esforços nem rejeita negócios para ganhar dinheiro, mesmo que para tanto precise tratar com judeus ou fazer-se familiar da Santa Inquisição. Volta a acumular pecúnia. Casa com moça de boa e de bem situada família. Tem filhos. Alça-se na sociedade. Torna-se Cavaleiro da Ordem de Cristo e homem de confiança do governador. Quando, afinal, parece ter, atingido uma altura da qual nada neste mundo será capaz de derrubá-lo, eis que a sina o arrasta uma vez mais montanha