Resenha Clarice Lispector 2

Clarice Lispector: o desnudar da alma

Em fevereiro de 1977, Clarice Lispector, conceituada escritora da literatura brasileira, concedeu uma entrevista ao jornalista Júlio Lerner, da TV cultura. Após gravada, Clarice solicitou que fosse ao ar só depois de sua morte. Fato que aconteceu em 09 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57º aniversário. A entrevista só foi ao ar em 28 de dezembro do mesmo ano, através do programa Panorama Especial, da TV cultura, dez meses após ser concedida e alguns dias após a morte da escritora, como era o desejo desta.
Júlio Lerner conduziu a entrevista de forma brilhante, durante um tempo de aproximadamente vinte minutos. O que se percebe no decorrer das perguntas é uma “incógnita mulher”, que em muitas vezes se deixa levar pelas perguntas do repórter e em outras, deixa surgir pausas longas, causando um incômodo desnorteante. Demonstra uma introspecção, uma aparente tristeza profunda, com um olhar que se desnuda em raros momentos e em outros se torna fugidio. Há claramente o incômodo por estar ali, por ter se permitido estar ali.
No decorrer da entrevista, Clarice nega veementemente a sua importância como escritora profissional, no cenário brasileiro. Ela afirma que não é uma profissional, só escreve quando quer e como quer, não tem obrigações para escrever. Pontua claramente que ser amador lhe dá a liberdade que um profissional não tem.
Ao ser indagada sobre como é seu processo de criação, ela afirma que há momentos que produz intensamente, mas existem outros momentos que se constituem como lacunas enormes nesse processo. E quando isso acontece, ela entra num estado vegetativo. Renasce e se renova a cada trabalho. Os seus vir-a-ser só acontecem no instante de suas produções.
Júlio Lerner ainda a questiona a respeito da dificuldade em se comunicar com o adulto ou com a criança. Clarice mais uma vez se deixa aparecer, respondendo: “Quando me comunico com a criança, é fácil, porque sou muito maternal. Quando me comunico com o