República V
Em grego, dizer que algo esti pode ser dizer (a) que existe, (b) que é verdadeira, (c) que é F para algum F - é corajoso, ou tem 90 centímetros de comprimento, ou é justo.
É melhor que fiquemos cientes dos pressupostos conceituais de Platão usando a expressão artificial ‘x é’ ou falando do ‘ser de x’ e lembrando que isso pode ser entendido de vários modos; em particular ‘é’ tem
(a) um uso existencial (‘x existe’),
(b) um uso veritativo (‘x é verdadeiro’) ou
(c) um uso predicativo (‘x é F’, isto é, corajoso, justo, tem 90 centímetros).
(a) Certamente ele não está preocupado com ‘ser’ no sentido de existência.
Em primeiro lugar, dificilmente é algo não controverso que o que não existe não pode ser conhecido. (Certamente podemos conhecer bastante sobre os deuses gregos, que não existem).
Em segundo lugar, isto comprometeria Platão com uma argumentação sobre ‘o que existe inteiramente’ e o que ‘não existe de modo algum’, mas a noção de graus de existência não faz sentido; o que quer que Platão queira dizer com graus de ser não pode ser graus de existência.
Alguns intérpretes se sentem perturbados por esta dificuldade; eles argumentam que, visto que Platão fala em graus de ser, deveríamos dar algum sentido da noção de graus de existência.
Isto não significa, é claro, que Platão esteja excluindo o uso existencial de ‘é’; de fato, visto que ele não possui uma palavra distinta para ‘existe’, é bem provável que ele pense que suas conclusões sobre o ‘ser’ das Formas tenham alguma implicação sobre o que nós chamaríamos sua existência.
(b) É inicialmente plausível tomar o uso verídico, pois não é controverso que conhecimento é do que é verdadeiro, e o que é falso não pode ser conhecido.
Bem no princípio do argumento há uma passagem que parece demandar a leitura verídica: as opiniões sobre os muitos, diz Sócrates, rolam entre ser [198] e não ser