Renato ortiz – mundialização e cultura
A desterritorialização é abordada através da história de um viajante alemão que vai até o fechado regime da China, onde se sente um “peixe fora d’água”. No entanto, em Hong Kong, também na Ásia, o quadro se reverte e ele passa a conviver em um cenário familiar europeu. O segundo país é como um lugar sem conteúdos próprios (ou, talvez, cheio de vários outros conteúdos), capaz de receber qualquer pessoa do planeta sem que ela tome um choque cultural. Esses lugares, assim como os free-shops dos aerportos, algumas cidades turísticas e hoteis internacionais são o que podemos chamar de “não-lugares”. Multinacionais fazem parte do local, e os processos industriais, por exemplo, ocorrem em diferentes cantos antes da produto-final ser finalizado. A desterritorialização acontece ainda na chamada cultura internacional popular, alvo do mercado consumidor – em que a nacionalidade pouco conta, o que vale mesmo é a distinção social (e não utilidade do produto) que ele causa em quem o consome. A publicidade, trabalhando na perspectiva do homem universal, se torna protagonista da identidade nacional, e os símbolos ganham origem no mercado – a exemplo da Disneylândia, Hollywood e Coca-Cola, para os norte-americanos. Fala-se em memória nacional, ou seja, um universo simbólico de rememorização das vivências compartilhadas por todos. Mas, ela se constrói através do esquecimento (amnésia seletiva) das contradições da história.
Para Jean Chesnaux o “hors-sol” constitui uma categoria geral da modernidade, uma situação de dissociação em relação ao meio natural, social, histórico e cultural. (p. 105)
A velocidade das técnicas leva a uma unificação do espaço, fazendo com que os lugares se globalizem. (p. 106)
O movimento da mundialização percorre dois caminhos. O primeiro é o da desterritorialização, constituindo um tipo de espaço abstrato, racional, des-localizado. Porém, enquanto pura abstração, o espaço, categoria social por excelência, não