Resenha Crítica - Mundialização e Cultura
São Paulo, Brasiliense, 1994, 234 pp.
por Guilhermo Ruben
Quando iniciei a resenha do último livro do prof. Renato Ortiz, meu colega no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, disse a mim mesmo que seria uma excelente oportunidade para conhecer, e difundir a obra de um colega com quem, como é freqüente nas universidades, apesar de ter um contato assíduo, de nos ocuparmos com problemas relativamente semelhantes, raramente tive interlocuções que extrapolaram o cotidiano. E embora isso talvez se deva ao fato de lecionarmos em departamentos diferentes, ele na sociologia e eu na antropologia, a resenha me entusiasmou pela possibilidade de diálogo. E não me decepcionei. O texto de Renato Ortiz provoca o diálogo a cada uma de suas 234 páginas, e a tarefa se torna ainda mais interessante considerando-se o caráter erudito do texto. A emergência de uma sociedade global - hipótese central do livro - será retomada ao longo do trabalho, demostrando um domínio da literatura não somente sociológica, mas também dos clássicos da antropologia, da ciência política, da história e da filosofia.
Munido de toda essa bagagem, Ortiz parte para a demonstração de sua hipótese. O argumento central inicia-se com uma observação crítica quanto às ciências sociais contemporâneas e, em especial, a antropologia. Dirá o autor que sendo a globalização "um fenômeno emergente, um processo ainda em construção [...] se choca com boa parte da tradição intelectual existente" (pp.15-21). Não duvidará em mencionar, na origem dessa tradição intelectual, Herder, o romântico alemão que "inaugura uma maneira de pensar" que permitirá compreender a humanidade como um conjunto, uma somatória de identidades particulares, nacionais. Essa nova maneira de pensar, lembra o autor, será completamente oposta ao iluminismo universalista, já que a "cultura existiria apenas no plural, enfoque antôgonico à visão abrangente do iluminismo [...] dimensão pluralista