RELIGIAO
Oráculo 31 de março de 2014
Mestre supremo da sabedoria, me diga, Capitu traiu ou não Bentinho?
Eduarda Souto, Governador Valadares, MG
SE TRAÍSSE O MACHADO IA PEGAR… machado2 Respostinha batata em todos os vestibulares éva: talvez. E esse é, justamente, um dos aspectos mais geniais do livro: não há como decifrar o enigma construído por Machado de Assis porque o livro traz apenas o ponto de vista de um personagem, Bentinho. “Não é possível afirmar, por meio da investigação das marcas textuais no romance, que Capitu tenha ou não tenha traído Bentinho”, explica Andrea de Barros, doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp.
Desde que foi lançado, em 1899, até a década de 60, Dom Casmurro foi lido como as memórias de um homem desiludido por ter sido traído pela mulher e pelo melhor amigo. Bentinho, o narrador, conta a história do amor por Capitu e depois a dor pela traição dela com Escobar.
Mas, no início dos anos 60, essa leitura foi modificada com a ajuda da crítica norte-americana Helen Caldwell, que escreveu o livro O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. “A partir da referência direta a Shakespeare e, especificamente, a Otelo, Caldwell leu Dom Casmurro como as memórias narradas por um homem ciumento”, explica Antônio Sanseverino, professor do Instituto de Letras da UFRGS. A comparação com Otelo é justificada: o ciúme levou Otelo a dar ouvidos a Iago e acreditar na traição de Desdêmona, que era inocente. “A partir dessa relação, pode-se ler o romance como a escrita de Bento, homem ciumento e cheio de imaginação, que condena Capitu sem ter provas e vê, em seu filho Ezequiel, a imagem de Escobar”, diz Sanseverino.
Ou seja, muitas leituras foram feitas