Relações étnico -raciais
Por quê abordar o tema étnico-racial?
É sabido que a população dos grupos periféricos das grandes cidades, ou dos municípios no interior do estado apresentam vulnerabilidades, que
se
acentuam
ao
atingirem
crianças
e
adolescentes. Seja porque se tornam vítimas de exploração sexual, seja porque são cooptadas pelo crime e são vítimas do tráfico de drogas
(tanto como usuários como enquanto soldados descartáveis), seja porque são vítimas de violência familiar e/ou negligência, seja porque ingressam precocemente no mercado de trabalho para ajudar a família ou simplesmente sobreviver – em qualquer desses casos, encontramos um denominador comum: a retenção ou a evasão escolar, o que acrescenta, aos
problemas
sociais,
o
analfabetismo
e,
por
conseqüência, a carência do preparo adequado para o ingresso na sociedade. Muitas são as crianças e jovens que, desta forma, vêem sua vida escoar-se por entre os dedos da miséria e da fatalidade, fazendo com que sejam incapazes de planejar, com um mínimo de sucesso, um futuro seguro e digno. Mas dentre todos esses, as crianças e jovens negros são duplamente castigados. Castigados pela penúria das condições sócio-econômicas e castigados pela penúria simbólica que é a discriminação racial.
A criança e o adolescente, negros, se vêem na periferia da periferia: além de pobres, são percebidos como feios, com cabelo ruim, com cara de bandido ou de prostituta, macumbeiros, descendentes de escravos. E, na escola onde deveriam, de acordo com o ideário liberal e democrático, construir uma identidade positiva, eles não se reconhecem numa história que os exclui, numa história onde o seu lugar é sempre de servidão, espaço subalterno na história da civilização. Eles não
aparecem nas histórias de fadas, não são princesas nem príncipes; tirante o Zumbi, eles não têm heróis e até parece que nunca existiram