Relações de Agua Viva com a Pintura
Faculdade de Letras – Fale
Uma breve relação entre tempo e o espaço, a tela e a escrita.
Água Viva
Estudos Temáticos em Literatura Estrangeira de língua Portuguesa
Ana Laura Rezende de Barros Mafia
Lúcia Castelo Branco
Belo Horizonte – Maio de 2014
O deslumbre pela pintura, se manifesta em histórias claricianas, em Água viva em 1973, no qual o tema é abordado vigorosamente e de maneira prática.
Pintar e escrever estão em concepções diferentes de um mesmo plano. Há ali um movimento, do início ao fim, entre um eu e um tu, entre a tela e a página, entre a tinta e a letra, que desfaz a linearidade e o equilíbrio, os quais leitores clássicos estão habituados. Não é romance, e não é poesia, “gênero não me pega mais”.
Dentre os itens que compõem os quadros de Clarice Lispector, mostro dois quadros pintados pela autora, dos aproximadamente 20 de que se tem notícia: Interior da gruta e o outro sem título. Clarice, em Interior da gruta, cria uma sensação que se assemelha àquela causada por sua história em Água Viva: desconforto. Se à primeira olhada o quadro pode causar um efeito de estranhamento, na segunda o observador tende a ser tomado por uma espécie de hipnose.
O quadro, sobre o qual estão pintadas em guache as cores marrom, verde, vermelho e amarelo, coloca seu “leitor” num estado de quase intromissão. A imagem pretende ser e estar “atrás do pensamento”, título que seria dado a Água viva. Atrás do pensamento, perto do não racional, do selvagem, do primeiro impulso, da adivinhação.
O romance diz sobre as grutas:
“Quero pôr em palavras, mas sem descrição as existências da gruta que faz algum tempo pintaram – e não sei como. Só repetindo seu doce horror, caverna de terror e das maravilhas, lugar de almas aflitas, inverno e inferno, substrato imprevisível do mal que está dentro de uma terra que não é fértil. Chamo a gruta pelo seu nome e ela passa a