Relatório boca de lixo
2011
RELATÓRIO
O documentário de Coutinho começa nos mostrando a realidade dos lixões, para onde vai o lixo que sai de nossas casas, e acabamos percebendo que ali é apenas o começo. Muitos dizem que o final do serviço diz que é a limpeza da casa, ir jogando fora o que se desprezou, o que se reciclou, o que findou ali. Mas ele (o lixo) continua ali e dali ele continua pra mais longe ainda…" Aquilo que não serve mais, que foi rejeitado pela cidade, que perdeu a utilidade para nós, o "final do serviço", enfim, nas palavras de Seu Enock, é também o início do documentário.
A câmara passeia pelo lixo e vai encontrar urubus e outros animais alimentado-se dele. E é através do lixo, ainda, que seremos introduzidos às histórias e visões de mundo das pessoas que - surpreendentemente para nós, habitantes privilegiados das cidades - o converte em material de consumo e sustento.
Da imensidão do campo repleto de detritos e bichos os mais variados somos confrontados com a imagem de seres humanos disputando o mesmo alimento que há poucos instantes atrás vimos os animais disputarem. O caminhão despeja os detritos e o, direcionando nosso olhar, nos mostra o objeto de disputa daquelas pessoas: sobras de frutas, legumes, carnes etc. desaproveitados.
O que vem a seguir serve, de algum modo, para confirmar aquilo que já supúnhamos saber, os catadores se escondem, protegem seus rostos da intromissão do invasor e sua câmera, e a nossa conclusão: eles têm vergonha de trabalharem ali naquele local que para nós, espectadores, é desconcertante. Estão ali, ainda segundo nossa visão, porque não há definitivamente outra opção, vítimas que são de um sistema social injusto e contraditório etc.
Mas aí quando adquirimos a certeza de que já entendemos tudo, Coutinho nos surpreende outra vez. Ele monta três depoimentos de três catadoras de lixo que afirmam estar ali por opção, que preferem o lixo, no dizer de uma delas, a trabalhar em casa de